"Gostaria de saber como lidar com crianças que escrevem tudo e têm boa caligrafia, mas não conseguem ler uma linha do que copiam."
Marluci Brasil de Castro, Corumbá, MS
Essa situação se dá com crianças que desenvolveram mecanismos para esconder as dificuldades de aprendizagem e serem aceitas na escola. Assim elas correspondem às expectativas de determinados professores: têm letra bonita, participam da aula e são organizadas, atentas e bem-comportadas. Tornam-se ótimas desenhistas de letras e não erram um acento, mas não conseguem ler. Às vezes sabem um pouco, mas, com medo de errar, se recusam a fazer ditados e redações.
O fato é comum quando o ensino desconhece a função social da leitura e da escrita. "Ler e escrever são exercícios que envolvem reflexão, raciocínio e experimentação", explica Eliane Mingues, educadora e assessora pedagógica. Isso não significa que a cópia deva ser extinta. Os alunos podem copiar receitas culinárias, endereços, poemas, bilhetes coletivos para os pais etc. A cópia tem, sim, lugar na escola inovadora, mas só se fizer sentido para a criança.
A alfabetização
Durante muito tempo, a escola priorizou a cópia e a decoreba como estratégias de aprendizagem. A situação começou a mudar no final da década de 1970, com as pesquisas de Ana Teberosky e Emilia Ferreiro. De acordo com elas, a criança estabelece, muito cedo, hipóteses em relação à escrita (primeiro acha que podemos "ler" desenhos; depois percebe que as letras existem para esse fim; e por último compreendem como usar essas letras para escrever). Por isso é necessário compreender que as idéias do aluno evoluem e, assim, dar espaço para que ele produza e mostre o que já sabe. O caminho para transformar copistas em leitores eficientes exige descobrir o estágio da alfabetização em que eles se encontram e ter consciência de que todos podem aprender.